O abuso sexual infantil consiste numa violência pessoal que transgride as normas que regulam a função disciplinadora do adulto, é um abuso também de poder e traz severas consequências para o desenvolvimento da criança em longo prazo. Além disso, costuma-se desenvolver uma relação entre vítima e abusador que resulta num pacto de silêncio; o adulto ameaça a criança com agressões psicológicas e a mantém numa posição fiel de não reportar o que acontece entre eles para mais ninguém. Esse pacto é mais forte quando o abusador é um parente próximo da vítima.
Dentre as formas de praticar o abuso sexual, as mais comuns são: ligações telefônicas obscenas; apresentação de imagens pornográficas; ofensas ao pudor; contatos físicos sexuais ou simplesmente as tentativas de concretizá-lo e violação, incesto ou prostituição de menor. Sabe-se que 25% das mulheres e 12% dos homens sofreram abuso sexual antes dos 17 anos e as consequências, ou sintomas, que podem prevalecer na vítima são:
- aparição de fobias (medos intensos),
- atraso escolar,
- enurese,
- depressão,
- culpa,
- diminuição evidente da autoestima,
- ansiedade,
- vergonha,
- terrores noturnos,
- problemas de conduta,
- perturbações do sono,
- anorexia,
- bulimia
- tendência às adicções.
Especificamente nos meninos, pode aparecer uma crise sobre sua orientação sexual e identidade de gênero.
Sentimentos muito comuns na criança que foi abusada e que podem servir de parâmetro para um possível diagnóstico são:
- sentimento de desamparo,
- sentir-se diferente dos outros
- sensação de estar em perigo permanente.
Lembrando que não necessariamente o surgimento de alguns sintomas citados acima pode estar relacionado com casos de abusos sexuais, se você está na dúvida, procure um profissional para agendar uma avaliação do caso.
O desafio para o trabalho com vítimas que foram abusadas é, em primeiro lugar, quebrar o pacto de silêncio, concretizar que a mãe da vítima ou ela mesma decidam procurar ajuda profissional. Muitas vezes, as mães dessas crianças também foram abusadas na infância e tem uma dificuldade em perceber que o processo está se repetindo em suas filhas, ficam extremamente relutantes em quebrar o seu “pacto de silêncio”, até porque o agressor pode ser o mesmo (a mãe foi abusada pelo pai que abusa de sua filha, neta dele). Caso elas consigam arranjar forças para desestruturar esse padrão e assumam a iniciativa de procurar ajuda profissional, é recomendável uma intervenção multidisciplinar que conste em:
- Psicoterapia Familiar,
- Psicoterapia Individual (considerando principalmente vítima e abusador)
- Visitas domiciliares feitas por assistentes sociais
- Intervenção da Vara da Infância e da Adolescência.
Um dos principais objetivos do acompanhamento psicológico da vítima abusada é construir uma reformulação da vida dessa criança ou pessoa. É estruturar um “sobreviver apesar de” ao invés de lamentar-se pelo ocorrido e suas consequências. Também é primordial que o psicólogo estabeleça um contrato de sigilo (reforçando que as informações serão compartilhadas entre a dupla – psicólogo e vítima – e só serão divulgadas para terceiros com a autorização da vítima e/ou de responsáveis) garantindo a confiança e o bem-estar do paciente.